Haja o que houver

Tenho experienciado isto há uns tempos, por muitas coisas que eu sinta, por muitos pensamentos que me passem pela cabeça, parece que me sinto incapaz de passar isto tudo para uma folha de papel, como se estivesse a perder a habilidade de me abrir sobre assuntos que vão dentro de mim, como se o meu sistema imunitário, de uma forma muito estranha, me esteja a proibir de me expôr, se calhar prevenindo-me assim de qualquer coisa que inconscientemente me atormenta. Tem mais juízo do que eu, coitado ..

Algo de que me tenho vindo a aperceber nestes ultimos tempos é que a maioria das minhas amigas mais próximas, tirando uma ou duas, estão todas comprometidas, acompanhas, com alguém .. e não estou de maneira nenhuma a querer dizer que estão em melhor posição do que eu ou mais bem acompanhadas, nem sequer estou a insinuar que gostava de ter alguém a meu lado neste momento, porque no fundo nem quero. Porque quem me quer tem uma pontaria terrível para escolhas amorosas e quem eu penso querer .. bom, tem ótima pontaria para ferimentos cardíacos.

E sem me querer desviar muito do assunto, apesar de não ter inveja do que certas pessoas têm nas suas vidas, uma pessoa fica a pensar. Penso em como deve ser bom estar com alguém que também quer estar connosco. Penso em como outrora também senti isso. Pode ter sido por um curto espaço de tempo ou uma serie de vários meses ou anos compressados, formando uma cronologia, mas a verdade é que vejo isso como sorte. Que hajam pessoas que já tenham tido a oportunidade de passar por algo similar. E é essencial que nunca se esqueçam dessas experiências porque são sempre coisas que nos enriquecem emocionalmente. Faz-nos acreditar que há sentimentos que nos tornam melhores, que nos deixam com uma certa sensação de je ne sais quoi dentro de nós. Da maneira como eu vejo as coisas, a base dos melhores sentimentos é a mutualidade, aqueles que partilhamos em igualdade, porque não deixam espaço para que haja qualquer tipo de lacuna emocional.

Neste caso, acho que há uns tempos me apercebi de que tudo é sentido de maneira diferente. Nada é mutuo. Estou agarrada a um conjunto de momentos, memórias e sentimentos verídicos, mas porém longínquos e a uma idealogia trágica de um presente interligado em demasia com o passado. E tudo junto toma a forma de um ser humano que, de tanto roçar na ausência, se tornou num fantasma. É algo de supernatural, que só me atormenta porque ainda insisto em acreditar, sinto uma presença mas no fundo sei que não existe. Sofro de um défice terrível, quero acreditar numa realidade onírica. E sei que isto nunca vai nunca vai passar de conteudo para textos melodramáticos que só ficam bem imprimidos em pergaminho. E é por sabê-lo que escrevo sobre isto, porque é desta maneira que sinto o poder, quase escasso, que tenho sobre a situação. E eu não sei o que é o amor, mas gostaria de acreditar que o que senti possa ser considerado como tal.

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