Chegou a casa, tinha acabado de trabalhar mais tarde e sentia-se exausta. Sabia que se tinha tornado no ganha-pão lá de casa e isso tinha-se tornado numa responsabilidade extra. Enfiou a chave na fechadura e abriu a porta da entrada. Estava tudo ás escuras. Poisou os sacos no chão e penetrou o apartamento, bateu com a porta.
"Faz pouco barulho!"
Uma voz rouca ouviu-se pela divisão inteira. Procurou o interruptor na escuridão e quando o encontro, carregou.
Lá estava ele, sentado no sofá, de pernas abertas, com uma garrafa de vodka, quase vazia, na mão direita e na esquerda segurava um cigarro. Tinha um cinzeiro à sua frente, mas as cinzas encontravam-se no chão. Olhou para ele com um olhar de desilusão.
"Não olhes para mim assim." Pediu-lhe, levando o cigarro à boca. Expirou u fumo e tossiu.
"Estás bonito, estás."
"Cala-te."
"O quê?"
"CALA-TE!" Gritou.
"Grita, vá! Grita para os vizinhos ouvirem, para eles verem no estado em que andas." Ralhou. Era o que tinha feito nos últimos tempo, ralhar com ele cada vez que chegava a casa e o encontrava naquele estado, sempre com uma nova garrafa na mão. Foi na sua direção para lhe tirar a garrafa, mas ele não deixou, moveu a mão e pôs-a fora do alcance dela.
"O que é que estás a fazer?!" Perguntou ele, já com a voz mais alterada.
"Vou-te tirar essa merda das mãos, não vês?"
"A única merda aqui és tu, sua cabra."
"Deixa-te dessas coisas e dá-me a garrafa." Pediu-lhe, abalada com o nome que ele tinha acabado de lhe chamar.
A raiva fez então com que ele se levantasse, já com dificuldades em manter o equilíbio. Deixou cair o cigarro no chão e bebeu mais um golo da garrafa, quase vazia.
"Quais coisas, pá? QUAIS COISAS?"
"Pensas que me metes medo, ao agires assim? Deves-te achar muito assustador."
"Vê lá como é que me falas .. Não me obriges a pôr-te as mãos outra vez em cima."
Passou por ela, batendo-lhe com o ombro do braço e foi para o quarto. Ela foi atrás dele.
"Mas tu pensas que vais para onde?!"
"Para a cama, estou cansado de te ouvir."
"Eu não vou dormir contigo assim!" Agarrou-lhe pelo braço.
"Larga-me, sua puta. Dorme no sofá, então!"
"PÁRA COM ISSO, ANDRÉ!" Suplicou-lhe, já com os olhos humidos.
Ele riu-se, empurrando-a.
"Agora choras. Pára de chorar, mulher. Só choras, tu. Não sabes fazer outra coisa. Estou feito contigo."
Levou a garrafa outra vez à boca, deixando-a desta vez vazia. Atirou-a ao chão.
"Que mais posso fazer? Já viste no estado que estás?"
"Eu estou bem, percebido? Tu é que pareces estar mal, por isos muda-te!"
Ela já com as lágrimas a escorrerem-lhe pela face, agarrou-se a ele.
"Por favor, faz-o por nós, pára de beber."
Deu-lhe um estalo.
"Já tu disse para te calares!"
As lágrimas caiam cada vez com mais facilidade. Estava farta de o ver naquele estado. Tinha-se tornado numa rotina autêntica, já não sabia o que era vê-lo sóbrio.
"Recompõe-te. Estou farto de te aturar."
Com passos instáveis, entrou no quarto e mal chegou à beira da cama, começou a ver tudo à roda. Ouviu-se um estrondo. Joana foi invadida pelo medo. Levantou-se o mais depressa que pôde e foi até ao quarto, deparando-se com a silhueta dele no chão. Baixou-se para sentir o pulso dele.
Nada.
Entrou em pânico. Procurou o telemóvel no bolso, com a intenção de chamar a ambulância. Quando o encontrou, parou durante uns segundos para pensar. Deixou-o no bolso. Olhou para o André imóvel que se encontrava no chão, inconsciente. Pouco depois, levantou-se, foi até à cozinha e tirou uma garrafa de vinho tinto.
Levou por sua vez a garrafa à boca e saboreo o doce sabor do vinho e o silêncio que reinava naquela casa.
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