A natural disaster



Cheguei ao quarto e estavas deitado no lado esquerdo da cama, de olhos fechados e com a respiração lenta, sinais de que estavas já nas profundezas do teu sono, nesse mundo que é só teu durante as horas da noite. Fiquei durante uns momentos parada ao pé da porta, a observar-te, a ver se nesse teu sono, te davas conta da minha presença. Mas os teus olhos permaneceram fechados e as minhas pernas dirigiram-me até à cama.
Levantei os cobertores e enfiei-me dentro deles. Já tinhas pré-aquecido a cama, mas, no entanto, senti-a fria. Aconcheguei-me aos cobertores e virei-me de costas para ti. Permaneci assim durante uns tempos, sempre contigo nos meus pensamentos, que ainda estavas ali ao meu lado, que continuavas imóvel, só ouvindo a tua respiração. Mexi a perna e toquei na tua. Assustei-me. Ja não me lembrava do teu toque. E, não sei porquê, senti vontade de chorar.
Virei-me e fiquei virada para ti. Passiei o meu olhar pelo teu rosto e não consegui tirá-lo de lá tão cedo. Passei pela tua testa, pela ponta do teu nariz, pelas tuas bochechas, pelos teus lábios, pelo teu queixo ... Isso tudo com o olhar, estava de tal forma paralizada que só encontrei forças para te tocar com os meus olhos.
Até que arranjei coragem e levei os meus dedos à tua face e senti um calafrio. Acariciei-a da forma mais dócil que consegui, sentindo na ponta destes a tua barba, a tua pele áspera, todos os teus defeitos palpáveis, mas invisíveis ao olhar.
E quando afastei o meu toque, chorei. Nunca tinha sentido as lágrimas caírem de forma tão natural como daquela vez. Sentia-me como se tivesse tocado num vazio qualquer.
Estavas ali ao meu lado, mas eu sabia que já tinhas partido à muito tempo.

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