Ephemeral moments

Iamos a descer a baixa. Já passava das onze da noite, as ruas estavam repletas de pessoas que abençoavam a sexta-feira bem merecida. O ar transbordava de alívio e a noite não podia estar a correr melhor.
"Chloé, anda, quero te apresentar o pessoal." Ouvi-a dizer. Puxou me pelo braço e apresentou-me aos seus colegas de turma.
"Bem, esta é a Chloé, de quem tanto vos falei." Ouvi um "Olá." alegre em coro.
"Boa noite, camarada."
"Já viram isto? Não me lembro de ver a baixa tão cheia. As férias de verão começam bem, digo-vos já."
"Tens razão, agora que os exames acabaram, vou aproveitar o que a vida nos traz de bom."
"BOOOOOOOOOOOOOOOOORGA." Riram-se.
"Bebe menos, Rúben."
"Eu bebo sempre moderadamente." Aformou ele.
"Nota-se."
Sentia-me bem. A companhia, embora sendo um pouco desconhecida, não podia ser melhor. Tinha na minha mão direita uma Super Bock e na esquerda um cigarro que agarrava firmemente com os meus dedos. Não conhecia ninguém alí, a não ser a Filípa e os meus novos "amigos" e, sinceramente, não estava com vontade nenhuma de ver caras conhecidas.
"Épá, apetece-me ir para outro lado." Aformou a Filípa.
"Que lado, o esquerdo ou o direito?" Gozou o João.
"Esqueces-te que o espaço que nos envolve é redondo, não há cá direitas nem esquerdas, é tudo infiníto!"
"O infiníto é só um oito virado na horizontal, não te esqueças."
Lançou-lhe um olhar perplexo. "Eu já te disse para beberes menos, Rúben!"
Continuámos alí, todos no nosso grupo, a trocar palavras e a discutir temas triviáis. Virei a cara, já não me lembro porquê. E logo naquele momento, desejei nunca o ter feito.
A tua silueta continuava impossívél de passar despercebida. Tinhas umas calças de ganga justas e uma t-shirt branca. Viam-se as tuas clavículas que eu sempre adorei. O teu cabelo estava despenteado, dando-te um ar rebelde, que no fundo sempre tiveste. E como accessório, tinhas-a a ela. Os dedos dela entrelaçavam os teus e a cabeça dela poisava sobre o teu bicep. Sempre gostaste de raparigas morenas, de cabelo comprido e ondulado. Ela tinha uma forma discreta, mas ao mesmo tempo sensual de se vestir. Um vestido preto, de cavas, cobria o seu corpo. Observei-vos enquanto susurravam diálogos que eu desconhecia nos ouvidos de um e do outro. Um rapaz alto, do teu tamanho, tocou-te no ombro. Viraste-te e esboçaste um enorme sorriso.
"Ehhhhhhhhhh! Renato!" Ouvi-te saudar, dando-lhe um abraço amigávél, acompanhado por uma palmada nas costas. "Andas por aqui?"
"Já sabes que sim, isto é o meu ponto de encontro."
"Que bom ver-te, rapaz, estás um homem feito."
"Então e tu? E vejo que tens uma mulher a teu lado."
"Sim, a minha mulher." Beijaste-lhe a testa. Deu para notar que ela se sentiu intimidada, mas uma intimidação positiva.
"Parabéns, mano. Olha, vou-te deixar, tenho ali o pessoal à minha espera, querem ir para não sei aonde."
"Está bem, está bem. Aparece, para irmos beber um copo ou assim."
"Sem dúvidas."
Acompanhaste-o durante uns curtos segundos com o olhar. Olhaste à tua volta. Viste-me.
Foi como se me tivesses paralizado. Não conseguia desviar o olhar. E tu também não. Ouvi umas vozes chamarem o meu nome, mas era como se estas ecoassem de dentro de mim. A tua namorada já estava a estranhar, e chamava por ti, mas tu também não reagias. Pegou então na tua cara e virou-a na sua direção. Não ouvi mais nada vindo da vossa direção, a hipnose tinha acabado.
"Chloé!" Consegui finalmente reconhecer a voz histérica da Filípa. "Eh mulher, estás bem?" Perguntou.
Pensei duas vezes antes de responder. "Estou óptima. Levem-me mas é para o infínito." Bebi o resto da cerveja de penalti e deitei a beata do cigarro para o chão.
"Oí? e depois eu é que tenho de beber menos."

No comments:

Post a Comment