when cupid and I had our first disagreement

Há uns tempos valentes atrás, cúpido andava a rondar e apanhou-me desprevenida. não sei se foi o meu desinteresse que lhe chamou a atenção mas o certo é que ele tomou a estúpida decisão de me chatear a cabeça. não se apresentou nem nada. deve-se ter escondido por detrás de um dos arbustos, pegou numa das suas setas e no seu arco e peng. eu senti uma dor estranha nas costas. doía pouco mas mesmo assim, ardia. ardia bastante a cada vez mais. então, pus a minha mão em cima da ferida e foi aí que toquei na seta. fiquei perplexa. tentei arrancá-la e ela saiu logo. o acto em si não doeu, mas a ferida continuava a arder e eu não sabia porquê. guardei então a seta por debaixo da camisola, para evitar que ninguém se apercebesse de nada e fui para casa. desinfectei a ferida com álcool, pus um penso e esperei durante uns tempos que aquilo passasse. não passou, continuava a arder e eu já me andava a fartar daquilo. nunca me tinha acontecido tal coisa. e os dias passavam, e as semanas e os meses. e nada, continuava na mesma, às vezes até parecia que aquilo andava a piorar, a arder de forma mais intensa. decidi então contactar cúpido. ouvira dizer que era um ser muito ocupado, com muito trabalho e andava pelo mundo inteiro. mas eu lá fui às páginas amarelas e encontrei o seu número. marquei-o no telefone e atenderam.
"Estou?" falou uma voz, nem muito masculina, nem muito feminina.
"Muito boa tarde, eu gostaria de falar com cúpido."
"É o próprio."
"Oh, estava a espera que alguém com o seu estatuto tivesse uma secretára ou algo do género."
"Não" riu-se "Eu já trabalho neste ramo há alguns tempos e gosto de manter as coisas oldschool. nada de secretárias, nada de sócios nem coisa parecida. trato de tudo à minha maneira."
"Ah, pronto"
"Mas diga-me lá, o que é que posso fazer por si?"
"Bem, eu gostava de fazer uma queixa."
"Uma queixa?"
"Sim, uma queixa. devo dizer que depois de você me ter acertado com uma das suas setas, eu fiquei com uma ferida nas costas e nunca mais sára. continuei a desinfectá-la durante uns tempos mas parece que só fica pior."
"Não percebo porque é que quer fazer queixa...É a primeira vez que lhe acontece isto, certo?"
"Sim, é. Porquê, vai-me acontecer mais vezes?!"
"Provavelmente, vai. mas é a primeira vez, é normal que isto te deixe assim. Vais-te habituar a essa 'dor'."
"Pois mas não me quero habituar a esta dor. é irritante, ás vezes mais doque outras e além do mais desde que me acertaste com aquela maldita seta não paro de pensar em coisas parvas e a sentir sensações estranhas e sentimentos estranhos relacionados com.."
"Eu sei, eu sei." riu-se, outra vez. "Foi mesmo por isso que fiz o que fiz. Já antes de eu te acertar com a seta tu andavas a sentir essas coisas todas e andavas com esses pensamentos. eu só fortaleci tudo."
"Que descaramento o teu! deverias era mas é preocupar-te com as coisas que te dizem respeito, não achas?"
"Modera o teu tom de voz. Eu só te fiz um favor."
"Não, não fizeste!"
"Fiz sim! Eu já andava a ficar farto dessa tua maneira de ser. és daquelas pessoas irritantes que pensam que o amor não vale de nada, que só magoa e por isso nunca pensam nele. desperdiçam-no de uma forma fria e deixam que ele lhes passe ao lado por razões mais aparvalhadas umas que as outras. querem ter emoções fortes e mais uma data de coisas, mas nada relacionado com o amor. por favor!"
"Eu não sou assim!"
"Ah não? então explica-me lá como tu és."
"eu simplesmente não obtive provas de que o amor é bom. o amor é para ser sentido por duas pessoas ao mesmo tempo, reciproco blablabla, e coisas do género. eu penso nele às vezes, no amor, e quase todas as vezes chego à mesma conclusão."
"E qual é essa conclusão?"
"Nenhuma. basicamente, é isso. nunca chego a uma conclusão palpável. e isso irrita-me. Para que é que hei-de pensar em algo para ficar irritada e com desejos e mais coisas? eu até tentei, algumas vezes criar sentimentos e enganar os que eu sentia de verdade. tentei deixar-me levar e nunca deu certo. por isso agora, eu é que decido o que acontece comigo."
"Faz o que quiseres."
"Eu tento."
"Já tiraste as tuas duvidas?"
"Não. mas deixa estar."
E desliguei.
Depois daquele telefonema, comecei a pensar melhor no assunto. Não percebia porque é que era tão difícil para mim aceitar as coisas como elas são. se calhar porque eu não percebo o porquê de elas serem assim? ou então por saber como elas são mas recusar-me a sofrer as consequências? e pronto, lá continuava eu a tentar decifrar a teoria complicada do amor e de tudo o que tem a ver com este. procurei em livros, textos e sites de internet e encontrei as mais diversas definições, umas mais básicas que outras, umas menos poéticas que outras. mas fiquei na mesma. continuava a não perceber porque é que eu sentia algo parecido por alguém. e pronto, chegue a um ponto em que desisti, desisti de fazer pesquisas que a meus olhos se tinham tornado desnecessárias, comecei a ignorar os sentimentos que saltitavam dentro de mim e por fim, peguei na seta, que tinha guardado em cima da minha mesinha de cabeceira, guardei-a dentro de uma caixa que tinha de baixo da minha cama e fechei-a à chave. enfiei a chave dentro do bolso do meu casaco e cada vez que me perguntavam o que era aquilo nas minhas costas, eu respondia que tinha sido um desconhecido que me tinha magoado, sem querer, enquanto brincava no parque. e continuei a minha vida, passavam os dias e eu já não pensava tanto na dor que sentia por causa de ferida e também já não pensava muito nos meus sentimentos, até que um dia o meu telefone tocou.
"Sim?"
"Mas tu não aprendes?"
"És tu cúpido?"
"Sim sou eu e fiz-te uma pergunta!"
"Não percebi."
"Eu da outra vez falei para o boneco?"
"Não..."
"Pois, mas parece. Porque é que tu és tão difícil?"
"Não sou difícil!"
"Não és agora, és complicada pronto."
"Não sou nada."
"És sim!"
"Para alguém com a tua idade e conhecimento do mundo tens conversas bastante acriançadas."
"De quem será a culpa?"
"Minha não é de certeza."
"Oh, pois não. que ideia!"
"Queres me dizer alguma coisa ou posso desligar?"
"Não, seria um desperdício na mesma." E desligou.
Não acredito que me desligou o telefone na cara! pensei.
E desde esse dia, nunca mais deu notícias.

4 comments:

  1. Eu adorei o concerto dos Snow Patrol, só a entrada! Pronto, isto era pro post de baixo x)
    adoreeeeeeeeei.

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  2. e ainda bem que não deu mais notícias. (ou secalhar, não)

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  3. Oh, não há nada para explicar, acho que sabes o tema do post...

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