Scarborough Fair

Acordei, fazendo um movimento brusco. O quarto permanecia ás escuras, sendo iluminado simplesmente pela luz da lua cheia. Gotas de suor escorriam-me pelo corpo enquanto a minha respiração, acelarada, abrandáva. Enquanto continuava a estabilizar o meu fôlego, imagens do sonho que tinha acabado de ter começaram a acumular-se na minha cabeça, recriando assim o filme que estas formavam.
(...)
Num quarto vazio, de paredes escuras, situava-se uma cama no meio, cama esta que estava coberta com lençóis pretos. Nesses lençóis dançavam dois corpos nus, roçando-se um contra o outro, corpos esses que mais pareciam vultos iluminados pela luz enfraquecida que iluminava o quarto. E um desses corpos era o meu, coberto só pela pele pálida e deshidratada nas quais duas mãos passeavam, percorrendo todos os seus recantos sem o menor pudor.
Posicionado entre as minhas pernas, encaixava na perfeição como um puzzle. Lábios à base de ceda que colidiram com os meus, deixando-me saborear um pouco daquela substância, que mais parecia veneno, que se foi empregnando no meu sistema.
Mãos que acariciavam os meus seios como se estes fossem de porcelana. Olhares que se cruzavam, mas que não viam nada. Línguas que se entrelaçavam, e que tudo transmitiam.
Penetração. Respiração acelarada. Posições diferênciadas.
Deixei que as minhas mãos percorressem o seu coro cabeludo, puxando-o cada vez com mais força à medida que o meu corpo seguia os movimentos dos dele. Por uns momentos entrei em transe. Não sentia mais nada a não ser ele dentro de mim, tudo à minha volta desapareceu e permanecer ali, assim, até sempre tornou-se num desejo carnudo que se apoderou de todo o meu ser. Ele acelarou os movimentos e eu mordi-lhe o lábio, como se quisesse arrancar um bocado só para mim. Libertámos gemidos abafados e foi aí que as minhas narinas deixaram que o cheiro dele me hipnotizasse. Não demorei muito tempo a reconhecê-lo, mesmo se no fundo sempre soube que só aquelas mãos conheciam o meu corpo de cor.(...)

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